As conseqüências da indecisão do Supremo Tribunal Federal sobre a aplicabilidade da Lei da Ficha Limpa começam a movimentar o cenário político de Brasília. Na próxima quarta-feira (29) o STF retoma o julgamento de um caso que deixou de existir. Joaquim Roriz (PSC), que tinha a candidatura ao governo do Distrito Federal questionada pelo TSE com base no Ficha Limpa, desistiu de concorrer e lançou o nome da esposa, Weslian Roriz (PSC), para substituí-lo na disputa ao Palácio do Buriti. O anúncio oficial foi feito na tarde de sexta-feira (24), na residência do casal, localizada no Park Way.
Segundo pessoas próximas, Joaquim Roriz avaliou que seria um risco esperar a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a validade da Lei da Ficha Limpa, uma vez que, se Roriz levasse a disputa para o segundo turno, não poderia mais trocar o candidato. Se fosse eleito em 3 de outubro, não poderia assumir. Pela Lei Eleitoral, as coligações podem trocar os candidatos até o dia da eleição. A foto na urna, porém, continuará sendo a de Roriz, pois o prazo para troca venceu no início do mês.
Em coletiva à imprensa, Roriz afirmou que a alternativa para acabar com a instabilidade jurídica da chapa Esperança Renovada é ideia dele. Segundo o ex-governador, poucas horas depois de o Supremo Tribunal Federal suspender a sessão que decidiria o futuro da Lei da Ficha Limpa o candidato ao governo do Distrito Federal olhou para a mulher e disse: “Weslian, minha ficha caiu”. A ficha de Joaquim Roriz seria decidida só na quarta-feira, mas ele resolveu se antecipar. “Hoje chegou ao fim essa história de impugnação”, contou. E chamou a imprensa para contar o que havia decidido. “Eu não vou ser candidato”, afirmou.
Candidato a vice-governador de Roriz, o deputado federal Jofran Frejat (PR) afirmou que chegou a ser convidado a ser cabeça de chapa na nova composição. “Não aceitei ser o cabeça de chapa. Não seria ideal, porque precisaria, em questão de uma semana, haver transferência de voto e não seria essencialmente para mim. Ele, Roriz, não tinha escolha. Qual seria a escolha? Desistir e não ser candidato? Abandonar o barco? Ou ir para a eleição sangrando o tempo todo?”, afirmou o médico, que continuará como vice na chapa.
Apesar de nunca ter ocupado cargo eletivo, Weslian Roriz sempre atuou nos bastidores dos mandatos do marido e, ainda, em programas sociais, como os de doação de cobertores e de preparação de cães para deficientes visuais. Dona Weslian é filiada ao Partido Social Cristão (PSC), a mesma sigla de Roriz. Embora jamais tenha concorrido a cargo público, dona Weslian foi a principal incentivadora da carreira política de Roriz.
Em todas as campanhas eleitorais do marido sempre o acompanhou em comícios, subiu em palanques, participou de caminhadas e carreatas, circulando por todas as cidades do DF em busca de votos. Apoiou também da carreira das filhas Jaqueline, deputada distrital e hoje candidata à Câmara Federal, e Liliane, que concorre à Câmara Legislativa. Dona Weslian tem mais uma filha (Wesliane) e quatro netos (Bárbara Maria, Juliano, Rodrigo e Joaquim Neto).
Roriz renuncia à candidatura, mas não deixa a campanha. O nome e a foto dele continuam na urna, pois os equipamentos já foram lacrados pela Justiça Eleitoral. Quem digitar o número do candidato, portanto, direcionará o voto para a nova candidata. Para reforçar a nova candidatura, aliados do casal começaram a intensificar a campanha nas ruas.
A notícia da troca de candidaturas repercutiu na campanha do principal adversário de Roriz. Ao discursar para militantes no Setor O de Ceilândia, o candidato petista ao Buriti Agnelo Queiroz afirmou que a decisão foi tomada porque o ex-governador não quis “enfrentar as urnas”. Em relação à nova candidata ao governo, Agnelo disse não ter nada contra a pessoa de Weslian Roriz. “A campanha vai ser feita do mesmo jeito, qualquer que seja a pessoa do grupo político de Roriz”, completou. Já Toninho, do PSol, terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, afirmou em seu programa eleitoral que a dona Weslian seria teleguiada por Roriz, caso vença a eleição.
TSE segue com julgamentos
Mesmo com o impasse no Supremo Tribunal Federal sobre a validade da Ficha Limpa, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Ricardo Lewandowski, disse que a lei “está a todo vapor” e que continuará decidindo os casos na Justiça Eleitoral. A indefinição no STF afeta diretamente o julgamento de pelo menos 171 casos de políticos na mira do Ficha Limpa que atualmente estão com recursos no TSE. Lewandowski garante que o tribunal não vai parar de julgar esses casos por conta do impasse.
“O empate no Supremo Tribunal Federal não significa que a lei perdeu sua validade. Pelo contrário, ela está vigente e a todo vapor”, disse Lewandowski. Na prática, porém, as decisões da Justiça Eleitoral não terão efeito até que o Supremo resolva a questão. Mesmo que o TSE declare que todos esses 171 políticos questionados têm as fichas sujas e não podem se candidatar, eles poderão recorrer ao Supremo, garantindo a participação nas eleições.
Alguns ministros do Supremo avaliam que seria prudente para o TSE esperar a resolução do conflito para voltar a julgar os casos. Eles afirmam que, se o STF entender que a lei não é válida para este ano, todo o trabalho que o TSE fez terá sido inútil.
Fonte: O Distrital